terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Apicectomia com instrumentação e obturação do canal radicular simultânea ao ato cirúrgico.

Quando o tratamento endodôntico convencional fracassa, a primeira opção é o retratamento do mesmo, porém quando não é obtido resultados satisfatórios para que se contenha a presença e proliferação de microrganismos na porção do ápice e periápice a cirurgia parendodôntica é tida como uma forma de solucionar estes problemas. Com o avanço da Odontologia, as cirurgias parendodônticas são realizadas com uma maior segurança, refletindo assim em maiores casos de sucessos e tornando uma modalidade de tratamento viável para a manutenção do elemento dentário na boca do paciente sendo indicada em casos de não obtenção de sucesso nos tratamentos convencionais, em situações em que o dente apresente um instrumento fraturado no conduto radicular, desvio no preparo do canal radicular, patologias nos tecidos periapicais e perfurações que não pôde ser corrigida com o tratamento endodôntico convencional. Este tipo de manobra cirúrgica, também favorece o trabalho do profissional no caso de estabelecimento de drenagem, alivio de dor, casos de complicações anatômicas, traumatismos, presença de pinos radiculares e coroas protéticas, calcificações pulpares, falhas de tratamentos prévios ou em andamento, problemas periodontais e em casos de necessidades de biopsia.

A realização da cirurgia Parendodôntica pode ser contra indicada por ordem local ou geral. Por ordem local quando é possível corrigir o problema apenas com o tratamento endodôntico convencional ou retratamento, e quando há impossibilidade de acesso cirúrgico por suporte periodontal insuficiente, processos patológicos em fase aguda e risco de lesar estruturas anatômicas. Por ordem geral se dá quando o estado de saúde geral do paciente se encontra debilitado e quando há comprometimento sistêmico.


As modalidades cirúrgicas para a realização da cirurgia parendodôntica são: curetagem periapical, apicectomia, apicectomia com obturação retrograda, apicectomia com instrumentação e obturação do canal por via retrograda e a obturação do canal radicular simultânea ao ato cirúrgico. (CIRURGIA PARENDODÔNTICA ASSOCIADA A ENXERTO ÓSSEO COM BIOMATERIAL (Bio Oss® Collagen) – Relato de Caso. In: www.mastereditora.com.br)

Caso clinico:
Histórico: Mulher, 24 anos. Chegou ao consultório relatando dor e apresentando um edema na região do dente 22.

Radiograficamente: Foi observado um tratamento endodôntico anterior insatisfatório, desvio no trajeto original do canal radicular e obturação aquém do limite apical. Foi observado uma calcificação do canal radicular. Foi observado uma lesão radiolucida envolvendo os dentes 22 e 23.


Tratamento proposto: Retratamento endodôntico do incisivo lateral, com a tentativa de localizar trajeto do canal radicular e/ou apicectomia com instrumentação obturação do canal radicular simultânea ao ato cirúrgico. Foi pedido uma radiografia com técnica de localização topográfica (Técnica de Clark), para avaliar a posição do desvio.


Foram feitas 2 sessões para tentativa de localização do canal radicular, sem sucesso. Encaminhando a paciente para a cirurgia parendodôntica.


Foi realizado a reabertura coronária do dente, com a finalidade de conseguir transpassar a lima endodontica no sentido ápice coroa. Seguindo o protocolo cirúrgico, foi realizado uma profilaxia antibiótica preventiva, com administração de 2g de amoxicilina via oral, uma hora antes do procedimento. Foi realizado antissepsia extra oral com PVPI (Polivinilpirrolidona 10 % + Iodo 1 %) e bochecho com clorexidina a 0,12%.
Realizou então a anestesia onde foi feita o bloqueio dos nervos alveolar superior anterior e anestesia infiltrativa local pela vestibular e pelo palato, utilizando mepivacaina a 2% com vasoconstritor, com lâmina de bisturi 15c, realizou-se então a incisão semilunar. Foi realizado rebatimento total do retalho, onde constatou-se clinicamente que a lesão periapical já havia
rompido a cortical óssea vestibular. Realizou-se a curetagem da lesão com cureta de Lucas e fresas cirúrgicas, removendo totalmente o tecido de granulação. Foi observado também o rompimento da cortical óssea palatina.


Foi então realizada a apicectomia com uma broca Zecrya nos elementos 22 e 23.


No elemento 22 foi introduzida uma lima endodôntica Tipo k #15, dobrada com auxílio de um porta agulha, com angulo de 90° a partir da haste. Foi pressionada no sentido coronal até romper a calculo que impedia a passagem da lima no sentido coroa-ápice.
Foi realizado então o tratamento endodôntico convencional.
Instrumentação rotatória: Limas Easy pro-designe.
Instrumentação Manual: Biomecânica final com lima tipo K: #45.
Solução irrigadora: Clorexidina 2%.
Técnica de obturação: Hibrida de Tagger com cimento endodôntico Endofill. Com extravasamento.


Realizou o condicionamento da loja óssea com cloridrato de tetraciclina (50 mg/ml) por 2 minutos.


Foi feita a desobturação de 4 mm da porção apical com o uso de ultrassom com inserto Trinks: TRI21 D-A5.


Manipulou-se o MTA e o mesmo foi inserido e condensado no orifício preparado pelo inserto do ultrassom.


Por escolha da paciente optou-se apenas pela colocação de membrana de colágeno por cima do coagulo.


Foi feita a sutura.



O material coletado durante a curetagem foi enviado ao laboratório do CGDB-UFG, que deu como resultado: Granuloma periapical inflamatório.



Paciente retornou para consulta de proservação após 18 meses.






Agradecimento ao Prof. Dr. Leandro de Carvalho Cardoso, cirurgião buco-maxilo-facial, que realizou a parte cirúrgica do tratamento.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

REMOÇÃO DE INSTRUMENTO ENDODÔNTICO FRATURADO EMPREGANDO ULTRASSOM*

Carvalho, VHM1; Cruz, RM2; Oliveira, LA2; Costa-Júnior, ED2; Arruda, M3; Carvalho-Junior, JR1,2
1Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Faculdade Ciências da Saúde, Universidade de Brasília - UnB
2Departamento de Odontologia, Faculdade Ciências da Saúde, Universidade de Brasília UnB
3Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Goias – UFG
*Trabalho apresentado na forma de Poster na XV JOUNB e premiado como o vencedor na categoria Relato de Caso Clínico

Introdução

Durante o tratamento endodôntico, diversos tipos de acidentes e complicações podem ocorrer, como: fratura de instrumento, perfuração e desvio do canal radicular (RAMOS, 2009). A fratura de um instrumento no interior do canal radicular pode estar relacionada às características morfológicas desse canal, como: curvatura, atresia e calcificação; podendo, ainda, estar relacionada à falta de conhecimento científico e/ou destreza do operador (CAETANO, 2010). Um instrumento endodôntico fraturado durante o preparo biomecânico impede a completa limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares, podendo ser responsável pelo fracasso do tratamento endodôntico (MAIA FILHO et al., 2009). Frente a esta condição, sempre que possível, a remoção do instrumento fraturado torna-se de fundamental importância para o prognóstico favorável do tratamento endodôntico (ANDRETTA, 2009). O objetivo do presente trabalho foi apresentar o relato de um caso clínico de remoção de um instrumento endodôntico fraturado empregando o uso de ultrassom.

Descrição do caso clínico
Paciente TUA, 19 anos, gênero feminino, foi encaminhada ao consultório privado para o retratamento endodôntico do segundo pré-molar superior direito (dente 15). Ao exame clínico observou-se destruição coronária com presença de tecido cariado. Na radiografia observou-se tratamento endodôntico insatisfatório com imagem radiolúcida, circunscrita à região periapical, sugestiva de lesão perirradicular.
Figura 1: Radiografia Inicial
Durante a desobturação do canal, fraturou-se uma lima endodôntica tipo K #35. Devido à presença da lesão perirradicular previamente constatada, tornou-se importante a tentativa de remoção do instrumento fraturado.
Figura 2. Imagem radiopaca sugestiva de instrumento endodôntico fraturado (tipo K #35) na porção apical do canal radicular do dente 15.
Como o instrumento encontrava-se preso apenas na porção apical da raiz, com a utilização de uma lima tipo K #15, conseguiu-se ultrapassar o instrumento fraturado. Por algumas vezes tentou-se remover o instrumento com uma lima tipo Hedströem K #15, sem sucesso. Em seguida, com o uso de um inserto de ultrassom fino, conseguiu-se remover o instrumento fraturado. O tratamento endodôntico convencional manual foi conduzido até a obturação do canal radicular.
Figura 3. Imagem da lima tipo K #15 passando pelo instrumento fraturado.
Figura 4. Radiografia de prova do cone, com ausência do instrumento fraturado.
Figura 5. Radiografia da condensação lateral.
Considerações Finais
Acidentes e complicações durante o tratamento endodôntico, como fraturas de instrumentos no interior dos canais radiculares, devem ser prevenidos por meio do planejamento criterioso do caso e do constante aprimoramento técnico-científico do operador. Fatores como o nível de infecção endodôntica podem influenciar no prognóstico do tratamento. Assim, a tentativa de remoção de um instrumento endodôntico fraturado deve ser sempre conduzida, sendo principalmente essencial em dentes com presença de patologias infecciosas perirradiculares. Para tanto cabe ao profissional ter conhecimento para aplicar a técnica mais indicada para a remoção do instrumento, para que se possa oferecer ao paciente um prognóstico mais favorável, devolvendo saúde, funcionalidade, estética e, portanto, uma longevidade maior ao dente.

Referências Bibliográficas
ANDRETTA, R; Endodontia Clínica e considerções bibliográficas: A especialidade sustentada pela Literatura; Porto Alegre 2009; Monografia (especialização).
CAETANO, SCR; Remoção microscópica de objeto metálico na raiz palatina do molar superior: relato de caso; Manaus 2010; Monografia (especialização).
MAIA FILHO, EM; RIZZI, CC; BONETTI FILHO, I; SOUZA, EM; VAZ, LG; BONIFÁCIO, KC. Avaliação da quantidade de voltas realizados realizadas antes da fratura de instrumentos rotatórios de níquel-titânio - Influência da conicidade, marca e calibre; RGO, P. Alegre 2005, v.53, n° 4 , p. 351 – 355.
PEREIRA, CC; TROIAN, CH; GOMES, MS; VIEGAS, APK. Remoção de instrumento fraturado endodôntico  empregando uma variação do dispositivo Endo Extractor; Rev. de End. Pesq. e Ens. On line 2005, Ano 1.
RAMOS, MD; Remoção de instrumento fraturado e prognóstico do tratamento endodôntico após a fratura; São Paulo 2009; Monografia (especialização).

quinta-feira, 22 de março de 2012

Variação Anatômica - Primeiro Pré Molar Inferior - Proservação

A anatomia do sistema dos canais radiculares dita os parâmetros sob os quais o tratamento endodôntico será realizado e afeta as possibilidades de sucesso. Essa anatomia de cada dente apresenta características comuns, bem como variações muito complexas.
A radiografia do dente pode revelar boa parte da anatomia interna que, associada aos conhecimentos teóricos, ditam o tamanho da broca a ser utilizada na cirurgia de acesso, sua direção, o tamanho do primeiro instrumento a ser utilizado no interior do canal radicular e, ainda, quais as modificações que devem ser empregadas para realizar o preparo da cavidade endodôntica, de modo a facilitar a localização dos canais radiculares.
Assim, o conhecimento da anatomia dos canais radiculares ajuda sobremaneira o profissional, desde a cirurgia de acesso até a obturação dos canais e é uma rota segura para se obter muito sucesso e evitar situações desagradáveis." (BREVE REVISÃO DE ANATOMIA DOS DENTES HUMANOS. In: TEMAS DE ENDODONTIA)
Caso clinico:
Histórico: Mulher, 43 anos. Chegou ao consultório com indicação de tratamento endodôntico por indicação protética.

Radiograficamente: Imagem de uma coroa protética, retentor intra radicular pré fabricado rosqueável. Ausencia de tratamento endodontico anterior, imagem sugestiva de dois condutos ou perfuração radicular. Imagem radiolúcida difusa, sugestiva de lesão periapical.
Tratamento proposto: Remoção do retentor intra radicular e tratamento endodôntico em sessões multiplas. 


Uso de localizador apical, Root Zx II (J Morita).
Instrumentação Rotatória: Motor X-Mart (Dentsply), sistema de limas Easy Pró-Design.
Instrumentação manual final: Biomecânica lima 35.
Medicação intracanal: Calem com pmcc. (S.S.White)

Solução de hipoclorito a 5,25%.
Técnica de Obturação: Híbrida de Tagger com cimento endodontico Endofill (Dentsply).
Proservação - 13 meses.

domingo, 18 de dezembro de 2011

É ou deveria ser?

É ou deveria ser?

Conversando com o Clínico >>
Prof. Ronaldo Araújo de Souza

Recentemente, Delfim Netto* publicou um artigo, cujo título é O fracasso da economia acadêmica. Ele começa dizendo que “em 1609, Galileu Galilei, (1564-1642) depois de ter aperfeiçoado um instrumento construído um pouco antes por óticos holandeses, produziu uma luneta que chamou de ‘Perspicillum’. Com ela deu origem a uma revolução na astronomia”.
Mais adiante, em outro parágrafo ele diz. “Mas qual a importância disso agora, há de perguntar-se, irritado, um daqueles economistas que se pensa portador da ‘verdadeira’ ciência econômica? Eu também uso a matemática! A pequena diferença é que o seu ‘tipo’ de conhecimento tem muito mais a ver com Aristóteles esteticamente matematizado do que com Galileu. Em lugar de tentar entender como funciona o sistema econômico, tenta ensiná-lo como deveria funcionar em resposta à beleza dos seus axiomas…”
Um conhecimento esteticamente matematizado pode nos levar a teorias interessantes. Mas, há um risco. Idealizamos tão bem, criamos teorias tão consistentes, que passamos a imaginar que aquela não é a última palavra, é a única. Pelas formulações que fizemos, pelas respostas que encontramos, muitas vezes passamos a ensinar não como funciona, mas como deveria funcionar. A prática às vezes nega. Nem sempre é como se imagina.
Mas, isso é ciência, é assim que ela funciona. Ocorre que a hegemonia do pensamento muitas vezes retarda de forma exagerada o avanço da ciência. Reinou absoluto durante muito tempo, mas o sistema financeiro desmoronou. Nele, não havia espaço para o outro, para uma outra forma de pensar. Mas, adaptando a frase de Delfim Neto, “qual a importância disso agora, há de perguntar-se, irritado, um daqueles endodontistas que se pensa portador da ‘verdadeira’ ciência endodôntica”?
Já fiz algumas vezes a analogia entre as descobertas de Galileu Galilei (posteriormente às de Nicolau Copérnico), e as resistências encontradas quando se vai de encontro aos dogmas da Endodontia. Já que Delfim Neto falou em Aristóteles e Galileu, permita-me acrescentar algo. O pensamento Aristotélico era o reinante na época, o que a própria Igreja Católica seguia. Foi justamente esse o receio maior de Galileu (já tinha sido antes de Copérnico), ir de encontro ao pensamento que reinava. Quando o fez, foi condenado. Ele contestou um dogma científico. Não se faz isso sem pagar um preço.
Quando Larzs Spangberg, um investigador biológico consagrado em toda a comunidade científica endodôntica, disse no editorial de 2003 do Oral Surgery... que “todas as informações obtidas das pesquisas endodônticas de laboratório precisam ser sistematicamente provadas em estudos clínicos randomizados para distinguir fato de ficção”, é bem provável que ele já tivesse percebido a curta sobrevida da ciência sem a clínica.

Qual é a concentração de hipoclorito de sódio que você usa? Qual? Ah, sim, 2,5%. Você sabe que até bem pouco tempo atrás você seria condenado, como Galileu foi, por dizer isso? Por que? Porque os trabalhos mostravam que essa concentração era altamente tóxica aos tecidos vivos. Pelo que mostravam os resultados, tinha-se que usar solução fisiológica para irrigar os canais, porque essa concentração é biocompatível. Uma beleza de axioma**.
Aceitou-se depois, o hipoclorito de sódio a 0,5% e mais tarde a 1%. Por que hoje se usa cada vez mais o hipoclorito de sódio a 2,5%? Porque além da beleza das estrelas, há algo mais no firmamento. Interpretou-se o trabalho de Grossman e Meiman como algo que indicava a necessidade de baixas concentrações de hipoclorito de sódio. Não seria o contrário, isto é, pelas dificuldades de se remover o conteúdo do canal, dever-se-ia utilizar uma concentração que proporcionasse maior ação solvente?
Para proteção dos tecidos ápico/periapicais, particularmente do coto pulpar, era fundamental a colocação de uma “gota” de hidróxido de cálcio sobre o coto pulpar. Uma beleza de axioma. A clínica não foi capaz de confirmar a viabilidade desse procedimento na rotina dos consultórios.
Por que não instrumentar o canal cementário? Para não agredir os tecidos periapicais. Os trabalhos mostram que quando se manipula o forame gera-se uma reação inflamatória nos tecidos (periapicais) vizinhos. O canal cementário é, assim, uma região sagrada. Uma beleza de axioma. Será que entendi bem? Quer dizer que um determinado segmento do organismo humano, mesmo infectado, é sagrado, não deve ser manipulado, é isso?
O pensamento Aristotélico diz, ao longo desses últimos mais de cinquenta anos, que se a obturação do canal não for hermética não há sucesso e vários trabalhos “provaram” isso. Daí a necessidade de se vedar todas as entradas/saídas do sistema de canais. Onde estão os registros da confirmação dessa teoria na literatura? A hegemonia do pensamento não permitiu sequer a discussão da sensatez e viabilidade da concepção. Que se condenem e levem à fogueira idéias contrárias.
Já disse em outra oportunidade que não basta elaborar belas hipóteses e a partir delas ensinar como fazer um tratamento endodôntico. É preciso saber e entender o que ocorre no tratamento endodôntico, para que se possa ter a melhor noção da validade ou não dos nossos postulados teóricos na aplicação clínica. A Endodontia registra alguns momentos em que os resultados clínicos entraram em choque com o que se idealizara nos laboratórios.
O neoliberalismo é um modelo falido, e com ele faliu o mundo. O interessante é que alguns cardeais do neoliberalismo estão negando o que fizeram e já estão dando entrevistas de como as coisas devem ser feitas para salvar o mundo (no Brasil, todos os dias estão na televisão dizendo o que o governo deve fazer). O sufocamento de novas idéias parece ser comum também na ciência endodôntica. São criticadas com o devido respaldo do conhecimento esteticamente matematizado. Mas, como diz Victor Hugo***, “é possível resistir à invasão dos exércitos, não à invasão das idéias”. Diante do surgimento delas, ensinam a fazer. E desejam assumir a paternidade.
Adaptando a frase de outro artigo de economia, desta vez de Dani Rodrik****, a culpa não é da endodontia, é dos endodontistas.

* Antônio Delfim Netto - economista e político paulista.
** Axioma - premissa imediatamente evidente que se admite como universalmente verdadeira sem exigência de demonstração.
*** Victor Hugo - (1802-1885), escritor e poeta francês de grande atuação política em seu país.
**** Dani Rodrik – economista americano, professor na Escola de Governo, de Harvard.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tratamento endodôntico de 2º molar superior com curvatura e quatro canais.

O preparo químico-cirúrgico tem como objetivo a modelagem e a sanificação, valendo-se de instrumentos endodônticos e substâncias químicas auxiliares da instrumentação, atuando no sistema de canais radiculares, estrutura orgânica e inorgânica, proporcionando limpeza e desinfecção do espaço anteriormente ocupado pela polpa, como também, conformação cônica contínua, com maior diâmetro cervical e menor apical, mantendo o forame na forma e posição originais, facilitando a realização da obturação hermética e tridimensional (SHILDER, 1974).
A complexidade da anatomia interna (PINEDA, VERTUCCI, WEINE, HESS, BRAMANTE) e a distribuição dos microrganismos (SHOVELTON) constituem um dos maiores desafios da Endodontia, principalmente quando relacionados aos canais curvos.
Não obstante, concrescências, anfractuosidades e atresias normalmente fazem parte das peculiaridades dos molares, principalmente os curvos (SCHNEIDER).
Entretanto, o franco acesso do instrumento à zona crítica apical e o preparo do canal é um procedimento recoberto de dificuldades, que na maioria das vezes, resultam em acidentes, entre outros, desgastes excessivos na zona de perigo, com ou sem perfuração (ABOU-RASS), forma de ampulheta no canal, com menor diâmetro na porção média do canal (BUCHANAN), degraus, desvio apical durante o preparo com ou sem perfuração (AL-OMARI; SOUTHARD), além da possibilidade de fratura dos instrumentos, devido às tensões proporcionadas pelas curvaturas, como também, o diâmetro, desenho da ponta, flexibilidade do instrumento e a técnica de instrumentação utilizada, variações da dureza dentinária e obstruções do canal por meio de raspas de dentina e conseqüentemente perda do comprimento de trabalho, sinalizam o insucesso da terapia endodôntica.
Muitos pesquisadores desenvolveram, nas duas últimas décadas, variações técnicas nos preparos dos canais radiculares curvos a partir das considerações anatômicas e suas repercussões supracitadas, com especial atenção à técnica do preparo cervical (MARSHALL; PAIVA; LOPES).
O preparo cervical pode ser definido pela ampliação do diâmetro na entrada e terço cervical do canal, criando acesso retilíneo aos terços médio e apical, proporcionando um desgaste anticurvatura, direcionado às zonas volumosas ou zonas de segurança. Consiste numa alternativa para superar a influência da curvatura apical, a partir do desgaste compensatório.
É proposição dos autores apresentar uma técnica simplificada para o preparo de canais curvos, utilizando técnicas capazes de contornar problemas relativos à presença de curvaturas e dificuldades inerentes. (In:TÉCNICA SIMPLIFICADA PARA O PREPARO DE CANAIS CURVOS)
Histórico: Homem, 36 anos. Chegou com indicação protética para o tratamento endodontico. Radiograficamente: Foi observada na radiografia restauração MOD e uma curvatura acentuada na raiz  MV do elemento 17.
Tratamento Proposto: Tratamento endodontico em sessão única.

Instrumentação rotatória: Limas Easy Pró-designe. Biomecânica Final: lima flexofile 35 (MV/DV/MP) 40(P).
Solução de hipoclorito a 5,25%.


Técnica de obturação: Técnica de condensação vertical aquecida ( Schilder 1967).
Cimento endodontico: Endofill (Dentsply)


quinta-feira, 10 de março de 2011

Uso de Ultrassom para remoção de nódulos pulpares durante o tratamento endodontico


Cálculos pulpares ou dentículos: são massas calcificadas nodulares, que aparecem nas porções coronárias ou radiculares da polpa, ou em ambas. Muitas vezes se desenvolvem em dentes que parecem normais em outros aspectos. Também podem ser encontrados em dentes inclusos.
Calcificações no interior da polpa não são incomuns, embora sua freqüência seja difícil de determinar. Encontra-se um número elevado de calcificações pulpares em dentes de indivíduos idosos e naqueles que foram expostos à cárie ou trauma. Nos casos de calcificação distrófica (calcificação relacionada com áreas que sofreram agressões e que apresentam estágios avançados de lesões celulares irreversíveis ou já necrosados), alguns fatores podem ser responsáveis pela formação inicial dos núcleos de calcificação. Os mais bem estudados são:
  1. Fosfatase alcalina: Comumente observada nos processos normais de calcificação.Nos tecidos lesados é aumentada a sua liberação, o que facilita a formação de fosfato de cálcio.
  2. Alcalinidade: nos tecidos necrosados, a alcalinidade está aumentada, provocando uma diminuição da solubilidade do carbonato de cálcio. Este, agora menos solúvel, precipita-se mais facilmente.
  3. Presença de proteínas extracelulares: acredita-se que algumas proteínas, como o colágeno, possuem afinidade pelos íons cálcio, principalmente nos processos normais de calcificação. Em tecidos necrosados, essas proteínas podem estar "descobertas", mais livres para associação com o cálcio, estimulando a deposição destes sobre essa matriz protéica.
Sendo comum em áreas necrosadas, portanto sem função, a calcificação distrófica não traz maiores conseqüências para o local. É, antes de tudo, um sinal da existência de uma lesão prévia.
CLASSIFICAÇÃO:
Há três tipos de calcificações pulpares: dentículos verdadeiros, falsos dentículos e calcificações lineares difusas.
Os dentículos verdadeiros correspondem à formação de dentina na polpa, eles são formados como resultado de uma interação epitélio-mesênquimal durante o desenvolvimento da polpa, filamentos epiteliais originados da bainha epitelial radicular de Hertwig ou extensões cervicais para o interior da câmara pulpar adjacente as furcas, induzem a diferenciação odontoblástica da papila mesenquimal adjacente, formando o centro do dentículo, os odontoblastos depositam dentina tubular conforme se afastam do epitélio central e produzem estruturas com a forma de dedos ao redor do epitélio, isto ocorre devido ao deslocamento de grupos de odontoblastos durante a dentinogênese.
Considera-se que os falsos dentículos são deposições de cálcio em círculos concêntricos que se formam geralmente iniciada por uma minúscula região de ph ácido, eles se desenvolvem ao redor de um ninho central de tecido pulpar (fibras colágenas, substância fundamental ou células necróticas). A calcificação inicia-se em torno da porção central e se estende para fora, em um padrão concêntrico ou radial de material calcificado regular. A maioria dos cálculos pulpares desenvolvem-se após a formação completa do dente e usualmente ficam livres ou aderidos à estrutura dentinária. Em raras exceções, os cálculos podem estar embutidos. Estes cálculos pulpares podem eventualmente ocupar porções consideráveis da câmara pulpar.
As calcificações lineares difusas não apresentam a organização lamelar dos cálculos pulpares. Mostram-se como áreas de calcificação irregular, fibrilar e fina, que freqüentemente são paralelas a vasos. São amorfos, não possuindo estrutura específica e geralmente ocorrem como conseqüência final de uma degeneração hialina do tecido pulpar. Tais calcificações podem estar presentes na câmara pulpar ou nos canais radiculares, e sua freqüência aumenta com a idade. Essa calcificação pressupõe uma invasão bacteriana e é o estágio inicial de uma necrose pulpar.
Os dentículos e cálculos pulpares podem atingir um tamanho considerável, sendo detectados em radiografias intra-orais como uma área radiopaca no interior da câmara pulpar ou dos canais radiculares. As calcificações lineares difusas normalmente não são detectadas ao exame radiográfico.
Quanto à localização: os cálculos pulpares são classificados de acordo com a sua localização em relação à parede dentinária circundante em:

·         Cálculos livres: são aqueles totalmente cercados por tecido conjuntivo pulpar.
·         Cálculos aderentes ou inseridos: parcialmente fusionados com a dentina.
·         Cálculos inclusos ou incluídos: totalmente cercados por dentina. Todos se originam livres na polpa e vão se tornando aderentes ou inclusos, conforme avança a formação de dentina.
Clinicamente, a presença destas calcificações no tecido pulpar pode levar a complicações irreversíveis, ou ate mesmo à extração do dente.
Abaixo duas figuras exibindo a presença de cálculos pulpares indicados pelas setas pretas e brancas, respectivamente: 

 Calcificação distrófica (setas) na polpa dentária.dentina (D) (HE, 200X)
 
Caso Clínico:

Histórico: Mulher, 56 anos. Chegou ao consultório relatando dor espontânea e pulsátil.

Radiograficamente: Observava uma imagem radiopaca, indicativa de restauração no elemento 26, muito próximo a câmara pulpar, sem alteração visível na região periapical. Foi inicialmente identificada uma alteração anatômica na camara pulpar.
Hipótese Diagnóstica: Pulpite Irreversível.

Tratamento proposto: Tratamento endodôntico em sessão única.
 
Uso do ultrassom Jet Sonic (Gnatus) com inserto ET20. Para remoção dos nódulos pulpares, juntamente com o uso de uma sonda exploradora reta (ODUS)
Uso de localizador apical, Root Zx II (J Morita).

Instrumentação Rotatória: Motor X-Mart (Dentsply), sistema de limas Easy Pró-Design.
Instrumentação manual final: Biomecânica lima 40 Distal, 35 Mesiais.
Solução de hipoclorito a 5,25%.

Técnica de Obturação: Híbrida de Tagger com cimento endodontico Endofill (Dentsply).